Olá seja bem vindo: 21/03/2025

Search
Close this search box.
Search
Close this search box.

Sindicato dos Produtores Rurais de Iturama-MG

Como logística, infraestrutura de transporte e armazenamento afetam o agronegócio brasileiro?

Sindicato Rural 09/07/2021 07:23:00

Graduado em Engenharia Mecânica pela Escola de Engenharia de Piracicaba (EEP), possui pós graduação em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), mestrado e doutorado em Geografia pela Unicamp e pós doutado em Geografia do Setor Sucroenergético pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Atualmente, Vitor Vencovsky é presidente da Associação das Empresas de Tecnologia de Piracicaba (ATEPI) e faz parte do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (ESALQ-LOG).

Scot Consultoria: Qual custo a ineficiência logística confere ao agronegócio brasileiro?

Vitor Vencovsky: É uma pergunta difícil de responder, pois a realidade do agronegócio brasileiro é complexa e varia de região para região e de atividade para atividade. Uma resposta simples e fácil, como todos nós gostaríamos de apresentar, pode levar a grandes equívocos e à desinformação.

Para ajudar nessa resposta, é importante entender melhor o que significa agronegócio, logística e ineficiência. O agronegócio envolve uma variedade muito grande de produtos, que possuem características diferentes e que influenciam diretamente nas operações logísticas.

As atividades relacionadas à produção, armazenamento, transporte e distribuição são, portanto, particulares a cada tipo de produto. Por exemplo, produtos perecíveis e não perecíveis ou frigorificados e não frigorificados exigem soluções logísticas muito diferentes. Portanto, a logística de cada produto deve ser tratada de forma específica.

As diferenças na logística também estão relacionadas à origem e ao destino dos produtos. A logística de produtos para exportação é totalmente diferente daquela de produtos de consumo local ou nacional.

A região de origem dos produtos agropecuários também influencia na logística. Produtos distantes do mercado consumidor ou dos portos passam a exigir sistemas de transportes mais eficientes, para percorrer grandes distâncias. Esse é o caso da produção verificada na região Centro-Oeste, que é distante dos portos e do mercado consumidor. Por outro lado, quando a produção é realizada perto do consumo, as distâncias são menores e os desafios logísticos podem ser superados com mais facilidade.

No agronegócio, há uma certa confusão sobre o uso do termo logística, que muitas vezes é associado à infraestrutura de transporte e armazenamento. Na prática, no entanto, a logística envolve uma série de outras questões muito importantes, relacionadas à gestão, tecnologia e serviços. No setor industrial, a logística, conhecida como logística empresarial, parece estar muito mais estruturada e consolidada, com os processos e funções mais definidas. No agronegócio, muitas discussões sobre logística parecem ficar mais no âmbito da infraestrutura e menos nos serviços e processos relacionados.

É importante, também, compreender melhor o que significa “ineficiência logística”. É uma situação que pode estar relacionada às condições da infraestrutura utilizada (estradas sem manutenção, por exemplo) ou à escolha de uma infraestrutura menos eficiente ou até mesmo inadequada. São duas questões que estão relacionadas à infraestrutura de transporte e armazenamento.

A “ineficiência logística” pode estar relacionada, também, à realização de um contrato ruim com o operador logístico ou com a falta de planejamento ou entendimento dos processos logísticos envolvidos. Nesses casos, a ineficiência está relacionada à falta de gestão. Enfim, algumas cadeias produtivas ou mesmo empresas praticam uma logística eficiente e outras não. Portanto, há várias realidades diferentes quando o assunto é logística do agronegócio.

Scot Consultoria: Quais são os principais entraves na aplicação de estratégias de melhorias na infraestrutura de transporte e armazenagem no Brasil?

Vitor Vencovsky: Os maiores entraves para a ampliação das infraestruturas de transportes estão relacionados à disputa entre grandes grupos e setores econômicos ou cadeias produtivas para ver quem controla os sistemas de movimentação e armazenagem.

Alguns setores, como o agroexportador, monopolizam as discussões, os planos, os investimentos e moldam o território para atender seus interesses, e não os interesses de todos os participantes do setor agropecuário nacional. Essa situação coloca em cheque sobre quem está realmente no comando do país, o Estado ou os grandes grupos econômicos.

Scot Consultoria: No curto/médio prazo, quais estratégias poderiam ser aplicadas para a prática de uma logística eficaz?

Vitor Vencovsky: No curto e médio prazos, as sugestões para os produtores praticarem uma logística adequada são: (1) conhecer muito bem as características dos seus produtos, para facilitar na definição dos processos, escolha das embalagens e planejamento dos sistemas de armazenamento, transporte e distribuição mais indicados; (2) conhecer a sazonalidade e o mercado em que os produtos estão inseridos, para planejar o momento correto de realizar a colheita e a venda; (3) acompanhar todos os custos logísticos envolvidos nos processos antes, dentro e depois da porteira; (4) conhecer muito bem cada etapa dos processos logísticos envolvidos, para propor melhorias em cada uma dessas etapas; (5) criar indicadores para as principais atividades desenvolvidas, permitindo medir e gerenciar os processos; (6) criar um ambiente favorável para que os colaboradores possam trabalhar com inovação e tecnologia.

Outras sugestões: (1) contratar colaboradores ou empresas de consultoria especializados em logística para planejar e acompanhar os processos; (2) capacitar os colaboradores através de cursos específicos sobre logística agroindustrial; (3) participar de eventos e congressos técnicos sobre logística, possibilitando a troca de experiências com outros profissionais.

Scot Consultoria: Devido à ineficiência de logística, muitas empresas internacionais de logística vem tomando espaço nesse setor. Qual é o perigo, nacionalmente falando, caso as empresas consigam dominar esse setor futuramente?

Vitor Vencovsky: A consolidação de mercado é uma realidade mundial, que já aconteceu em outros setores no país, como o bancário e telecomunicações. Não é novidade no mundo que setores estratégicos passem a ser controlados por poucas empresas, formando oligopólios ou até mesmo monopólios. O setor ferroviário brasileiro, por exemplo, é controlado atualmente por três empresas, que transportam, em grande parte, seus próprios produtos. É uma situação que não existia quando as ferrovias estatais foram privatizadas na década de 1990.

Outro fenômeno muito comum é a verticalização, em que uma determinada empresa passa a participar, direta ou indiretamente, de toda a cadeia produtiva. Como o setor de alimentos no país é controlado por grandes grupos internacionais, nada mais lógico que esses passem a participar mais ativamente do controle dos sistemas de movimentação e armazenagem.

É importante considerar, também, a prática muito comum no mundo de internacionalização das empresas, através da criação de unidades fabris e filiais em praticamente todos os continentes e países do mundo.

A consolidação, a verticalização e a internacionalização das empresas são, provavelmente, a explicação para a participação de empresas internacionais no setor de logística no país, e não a ineficiência.

Como a logística é uma atividade muito estratégica, permitir o seu controle por poucas empresas internacionais (e também nacionais) pode ser um grande perigo para o país. As empresas são seletivas no investimento e não incluem a totalidade das necessidades do país. É importante lembrar que o que é bom para as empresas, não necessariamente é bom para o país.

Scot Consultoria: Devido ao seu tamanho continental, o Brasil necessita de inúmeros investimentos em infraestrutura de transporte e armazenamento. Na sua opinião, o que é necessário para melhorarmos eficientemente? As empresas deveriam ser únicas e exclusivamente responsáveis por essa melhora?

Vitor Vencovsky: O país deveria construir uma infraestrutura de transporte e armazenamento que atendesse ou estivesse disponível para todos os setores econômicos e atividades agrícolas e industriais. As infraestruturas deveriam estar disponíveis para realizar diversos serviços e não apenas o voltado à exportação de grãos e minério, como acontece com a maior parte das ferrovias brasileiras.

Da maneira como as coisas acontecem no país, parece que as empresas são donas das infraestruturas, muitas delas construídas com dinheiro público. É o que alguns pesquisadores chamam de uso corporativo do território.

Scot Consultoria: Vitor, você acredita que o governo brasileiro poderia incentivar a melhora na logística agroindustrial através de benefícios como a isenção de impostos na aquisição de galpões em pontos estratégicos, fazendo com que, dessa maneira, o Brasil consiga formar uma rede eficiente e rápida de logística atendendo grande parte do agro nacional?

Vitor Vencovsky: O incentivo deveria privilegiar atividades em que o setor privado não tem interesse em participar, em setores em desenvolvimento e ainda não consolidados e na promoção da inovação para preparar o país para o futuro.

Setores já consolidados deveriam ser autossustentáveis, sem interferência ou ajuda do Estado, e buscar financiamentos e outras formas privadas de apoio para construir seus galpões ou armazéns.

 

Fonte: Scot Consultoria

Clique aqui para acessar a Fonte da Notícia

VEJA MAIS

Valério anuncia oficialmente retorno do goleiro Glaycon Rian

No início da noite desta sexta-feira (21), o Valeriodoce Esporte Clube (VEC) utilizou as suas…

Valencia brilha, Equador vence Venezuela e passa Brasil nas Eliminatórias

O Equador venceu a Venezuela por 2 a 1 em uma partida emocionante pelas Eliminatórias…

Colisão entre duas carretas deixa um motorista morto em Minas Gerais

Uma pessoa morreu após uma colisão entre duas carretas em uma rodovia no interior de…